Enquanto espero meu voo ser chamado, nessa sala de embarque,
a única coisa que consigo sentir é o toque da liberdade despertando em cada
pedaço do meu corpo. Enquanto observo as pessoas ao meu redor, dando
telefonemas rápidos para dizer o quanto amam alguém que não pôde acompanha-las
até o aeroporto, e algumas que trocam carinhos com seus respectivos ali mesmo,
sem vergonha de qualquer coisa, penso que, ah,
todos eles estão certos, se felizes.
Por isso eu sei que também estou certa, porque estou feliz e
essa minha felicidade não afeta a ninguém. Há anos cortei o cordão umbilical e
a cada dia essa decisão mostra-se mais correta. E eu não tenho para quem ligar.
Despedi-me de meus pais antes de pegar o ônibus que me trouxe até onde me
encontro. E agora não há ninguém nas minhas últimas chamadas do celular senão o número da pizza que pedi noite
passada.
É nessa sala de embarque, antes mesmo de entrar num avião
cheio de gente que não conheço e não me conhece, que reflito sobre o fato de eu ser livre. Eu não tenho ninguém para
quem ligar e isso não me incomoda. A mocinha a minha frente não desgruda os
olhos do celular, onde os polegares trabalham arduamente no touch. Volta e meia ela dá um sorriso
tímido e olha ao redor, certificando-se de que ninguém viu. Estou tão atirada
na cadeira que mal repara em mim.
Estar ali sem fio emocional algum que me prenda é tão
reconfortante quanto um banho quente no fim de um dia exaustivo de trabalho.
Não precisar que uma outra pessoa concorde com minha decisão de explorar um
lugar totalmente desconhecido, sem ninguém, é excitante. Porque não devo nada a
ninguém que ficou. Nem satisfação, nem qualquer tipo de compromisso a honrar. E
isso, embora não pareça, multiplica meu leque de possibilidades mais vezes do
que posso contar –já que sou de humanas.
Aquele sentimento leve de “o mundo é meu e posso mudar meu
destino a hora que quiser” me inunda, e como –ah, como! –parece fazer parte de mim há muito tempo. De tão leve,
sinto que posso carregar tal sentimento por onde for, mesmo que esse “onde”
seja qualquer lugar. Um senhor ao meu lado repara na garota de coturnos
surrados e sorri amigável, retribuo o sorriso e imagino que história estaria
ele deixando ou indo encontrar. Valeria a pena ouvir, se meus pensamentos já
não estivessem falando de mais.
Ser livre, ao contrário do conceito ao que me prendi por
muito tempo, vai bem, mas bem além de um status de relacionamento solteiro.
Você pode ser ou não. Eu sou. Eu escolhi ser, ou a vida escolheu pra mim –alguma
coisa entre essas duas linhas –e eu aceitei de bom grado, ué, quem sou eu para
recusar uma oferta dessas? Ainda mais quando a oferta é suscetível a mudanças –e
ela é, sou livre para usar as amarras que eu quiser. Hoje estou solteira, amanhã posso já não estar, e é nisso(entre outros)
que implica minha liberdade. Tenho a liberdade de escolher se vou estar sozinha
ou não nesse âmbito amoroso. Depende do meu humor. Depende da outra pessoa.
Depende de ambos. Talvez eu não esteja mais solteira por uma semana, e tal
característica retorne em seguida. Talvez eu mantenha um compromisso longo e depois
decida dar um basta, porque não quero mais. Ou talvez eu nunca termine esse relacionamento, porque minha liberdade me dá o direito de escolher a que ou quem me prender. É para isso que sou livre. Para
poder fazer essa escolha.
Quando minha amiga liga, de ultima hora, convidando para fazer um porre, eu decido naquele minuto
se estou a fim, e vou ou não. Até mesmo quando meus pais convidam-me para
almoços de família tenho essa escolha. Porque ter liberdade significa escolher.
Não me prender a nada que mude ou influencie de forma invasiva essa minha
escolha.
Ser livre está pintado no chão do avião em que me encontro
agora, por meio do qual irei até logo ali, ou mais para lá, não sei, vai
depender de minha vontade. E essa, é a única coisa a que aceito me prender,
porque ela conduz as rédeas de minha liberdade.
Por enquanto, minha vontade decide que estou aqui, talvez amanhã eu
chegue lá, mas ela ainda não me contou onde fica esse lá.
Bem, a liberdade me
dá escolha de escolher.
— Bruna Barp
OBS: O texto em NADA tem a ver com a vida pessoal da autora. A situação e personagens são apenas fictícios.
Foto: We heart it
Moça, seu texto foi um tesouro! O modo como escreve é lindo e envolvente, como se as palavras fossem amigas do leitor!
ResponderExcluirDeu uma vontade se ser livre como a protagonista, mas ainda não. Ou talvez eu seja livre por poder escolher não ser(opa, parece que viajei demais!). A liberdade traz imensas responsabilidades e a necessidade de se estar bem consigo. É preciso se amar muito para suportar.
parabéns pela escrita, mais uma vez!
http:/www.umavidaemandamento.blogspot.com.br/
Oii xará!
ExcluirDesculpe a imensa demora por resposta.
Ser livre está na alma, e tu és se tiveres a liberdade para escolher não ser.
Muito obrigada pelos elogios, ter um texto chamado de tesouro me deixa muito feliz!
Beijinhos da Bru, e volte sempre hahah ♥
Com certeza é realmente ótimo saber que temos tantas possibilidades para explorar na nossa vida, que ninguém sabe o que o futuro aguarda! Adorei o jeito como você escreve!!
ResponderExcluirSthéfanny Pires de Oliveira
Oii Sthéfanny!
ExcluirTer possibilidades e poder escolhê-las é parte da beleza da vida hahah
E muito obrigada pelo elogio(sinta-se a vontade pra se perder entre os textos hahahah ♥), beijinhos da Bru!
Amei o seu texto, a forma como você escreve é encantadora
ResponderExcluirParabéns pelo blog, já estou seguindo para poder acompanhar as novidades <3
www.papomoleca.com.br
Que amor ♥ hahahah muito obrigada pelo elogio e por seguir! Seja bem-vinda!
ExcluirMenina do céu, que texto maravilhoso! Li e fiquei apaixonada. Tua escrita é tão bonita e tão gostosa de ler... Parabéns! Estou seguindo, já ganhou uma leitora. É TÃO BOM encontrar mais uma aquariana que também ama as palavras e o poder da escrita <3
ResponderExcluirUm beijo,
http://imaturidadeadolescente.tk/
Outra aquarianaa ♥ Bom Lauren, muito obrigada pelos elogios, se também é apaixonada pelas palavras, sabe o quanto significa ler isso hahah Quanto ao texto, escrevi com o coração HAHAH
ExcluirSeja muito bem-vinda, beijinhos da Bru!