Sinto tanto
_Mas você gosta dele.
_Gosto nada.
_Claro que gosta.
_Não, cara, foi coisa passageira! _gritei para minha melhor
amiga, enquanto ela me dava as costas. Já não era tempo de deixar-me lá, para
conviver com meu sentimento.
Ela estava cansada de tentar me fazer admitir, pensar,
cogitar... Qualquer uma dessas possibilidades me deixava assustada, como um cão
acuado, sem saber como dar o próximo passo, sem
querer sair do lugar. A dificuldade sempre foi entregar.
Entregar um sentimento, um olhar, entregar o jogo ou me
entregar para o amor. Não gostava de ter que entregar nada, receber era tão
fácil, eu não queria ser recebida. Eu queria chegar com tudo que tinha direito,
e eu tinha.
Meu medo não era complicado de entender: eu não sabia lidar
com reciprocidade. Essa coisa de ter o sentimento do outro voltado para mim na
mesma intensidade era um território perigoso, e eu procurava me manter fora
dele. Como nunca pude impedir o sentimento dos outros, eu aprendi a evitar os
meus.
Sempre há um lugar em que a gente pode escondê-los,
disfarçar, mascarar. O que eu ainda estou tentando fazer é achar a fórmula para
não deixá-los nascer, meu caro. Porque eu evito, desvio o olhar, viro a
esquina, mas eles continuam ali, esperando qualquer vacilo. E você sabe, eu não
posso vacilar. Foi um privilégio que descartei há tempo suficiente para
entender que deixar escorrer sentimento resulta em inundação. E uma vez eu
quase me afoguei.
Só que ao invés de aprender a nadar, eu corri da água. Corri
para bem longe, sem deixar que tocasse sequer as pontinhas dos dedos dos pés. Sabia
que a brisa me convenceria a entrar naquele oceano profundo que era o coração,
e eu queria manter o meu a sete chaves. Talvez alguém tivesse a oitava. Talvez
eu traísse a mim mesma e, de tão bêbada, corresse para o mar de sentimentos que
estava trancado aqui dentro.
O fato é que eu não queria sentir, não quero. E finjo que
não sinto o tempo todo. Minto para mim mesma. Talvez nem exista a oitava chave,
ou quem sabe existam oitocentas. Eu não sei.
E estou evitando saber, mesmo
que eu sinta. E eu sinto muito.
— Bruna Barp
OBS: O texto em NADA tem a ver com a vida pessoal da autora. A situação e personagens são apenas fictícios.
Foto: We heart it
10 comentários
"O fato é que eu não queria sentir, não quero. E finjo que não sinto o tempo todo. Minto para mim mesma. Talvez nem exista a oitava chave, ou quem sabe existam oitocentas. Eu não sei."
ResponderExcluirMuito perfeito esse texto! Simplesmente amei cada frase. Mais uma vez está de parabéns pelos textos belíssimos. Beijinhos da Gabi
Ahhhh muito obrigada Gabi, adorei a escolha de trecho ♥
ExcluirBeijinhos da Bru!
Gente!! Que texto lindo e perfeito *--* Acho que me apaixonei por ele, rs. Fiquei até sem palavras depois de lê-lo ♥ Parabéns!!
ResponderExcluirBeijos ^^
http://mecativaste.blogspot.com.br/
Se ficou sem palavras, eu amei HAHAHAH muito obrigada Andressa!
ExcluirBeijinhos da Bru ♥
Eu sou completamente apaixonada nos seus posts! Este, em especifico diz muito sobre meu eu do passado, mas as coisas mudam, graças a deus!
ResponderExcluirhttp://www.pinkisnotrose.com
E ainda bem que mudaram, Carol! Fico muito contente que seja apaixonada por eles HAHAH obrigada, beijinhos ♥
ExcluirQue texto lindo me apaixonei
ResponderExcluirSegui seu blogue
Beijinhos com carinho,
http://oivamossonhar.blogspot.pt/
Muito obrigada Catia! Seja bem-vinda ♥
ExcluirLindo o texto! Eu acho que a maioria das pessoas já mentiram pra si mesmas, não queremos aceitar certas situações. Muito reflexivo! bjs
ResponderExcluirwww.pilateandosonhos.com
É, acho que sim, Ciana! Hahahah Obrigada, beijinhos da Bru!
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