Eu que não fumo queria um cigarro

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É rapaz, já faz uns dias que acordei decidida. Tão decidia que quase não me reconheci. Faz um tempo que a gente vem empurrando isso com a barriga, né? Só mais um dia. Só mais uma tentativa. Só mais uma chance. E de uma em uma, moreno, até o mês passou.
Por isso faz uns dias que decidi ir para academia e chapar essa barriga que empurra os dias, carrega as coisas, sustenta nossa relação. Eu decidi deixar ela lisinha, pra não empurrar mais nada, e você devia fazer o mesmo. Cortei o cabelo, sim, meu cabelo de estimação, só para conferir se não era nele que as discussões mal resolvidas estavam se enroscando, perseguindo-me por onde fosse. Fiz uma tatuagem nova, sabe? Aquela que eu tanto queria e você tinha pavor, só para ter certeza de que você não estava impregnado na pele também.
Faz dias que eu resolvi parar de fazer isso, e encarar os fatos, entende? Eu juro que queria que a gente desse certo, e você não pode negar que tentei, que eu me esforcei, que fiz por onde. Juro que queria embalar nossas conversas com riso, a verdade é que eu tentei carregar tudo com o coração, mas só consegui empurrar com a barriga. Foi só o que consegui fazer nesse últimos dias, rapaz. Penar dia após dia, sem deixar de riscar um no calendário. O problema era que não tinha uma data de objetivo, sabe? Aquela que a gente circula com a caneta preferida. Era só para dizer ao meu ego –e comodismo – que vencera mais um dia.
E encarando os fatos da forma que são, foi que decidi parar. E parei, moreno. Eu parei de arrastar nosso relacionamento preso no calcanhar, ele pesava e dificultava a caminhada. Parei de sentir que a responsabilidade por estar tudo desandando era minha, porque eu tentei mesmo. Parei de olhar para você como minha única chance de ser feliz no amor. Sabe, rapaz? Eu só meio que fui parando, e, as vezes, parar pode ser tão revigorante quanto um banho de mar no fim do dia.
Até que finalmente joguei a âncora e acendi um sinalizador, eu pedi socorro, eu pedi para descer.  Eu, que nunca fui de desistir das coisas. Eu, que jurei a mim mesma não esquecer de nós. Eu, que vi no ato de desistência, minha carta de alforria. Porque eu mereço outra chance, outra tentativa, outro porto.

 É, moreno, eu que não bebo, pedi um conhaque. 


— Bruna Barp



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