Certas prisões são libertadoras
E ali estava, diante dos meus olhos. Para ser honesta comigo
mesma, em minhas próprias mãos. A carta de alforria, minha deixa para ir.
Seguir em frente. Deixar você.
Você que acabou de desistir, que acabou de gritar o fato de
não ser bom o suficiente, de saber que só faz merda, de que eu devia ir. O copo,
antes cheio de Whisky agora estava em cacos pelo chão, e o líquido escorria pela
parede branca.
Quem perdeu o controle não fui eu, moreno. Eu estava aqui, ainda estou, e então você resolveu
perceber que não dávamos certo. Que a minha metade não era você, que eu era uma
panela grande demais, e você, uma tampa minúscula. E nessa de ser menor do que
o exigido por mim, do que eu precisava, foi deixando brechas pelo caminho.
E depois de me humilhar para mim mesma diante do espelho e
dizer "basta" mais vezes do que posso contar, eu sempre voltei. Sempre voltei
porque era isso que eu queria, que quero,
é você. Eu sei de cor e salteado
sobre faltar preenchimento em mim, sei de trás para a frente que não é
suficiente, sei de tudo isso, rapaz. Eu só não quero aceitar, quem sabe se
puxarmos aqui e ali, você estica e vira uma tampa na medida certa? Ou então eu
troco de forma, e viro uma panela menor? Não importa.
O como não importa, importa que a gente permaneça. Eu e
você, moreno. Eu não me importo de ouvir que faço papel de trouxa, porque não faço, e eles só sabem falar do que vêem ou ouviram falar, mas nenhum deles sentiu, nenhum deles vive minha vida, nossa vida. Nenhum deles nunca vai saber
como é, e do quanto eu não me sinto sendo estúpida, porque eu te assisto, moreno,
tentando dar o melhor de si, e, no meio desse caminho todo, pisar em falso sem
querer.
Sabe? Tudo bem, sempre achei que fosse querer excessos, e olha só pra mim agora, admitindo que de você não preciso dos excessos, eu preciso de você, da gente, e isso me basta.
E você acaba de me dar o que eu sonhei várias noites, acaba
de me dar o que implorei para conseguir. Mas esse é o problema, rapaz, não posso
ganhar essa carta de alforria das tuas mãos, não é tu que tens que me deixar
livre, que deve dizer vai.
Sou eu, o tempo todo fui eu. Eu insistindo ficar, eu
insistindo na gente, eu jurando a mim mesma que ia dar certo. Eu que me
mantenho presa a você, esperando que me dê algo que só eu tenho. E só eu posso
fazer isso, moreno, essa capacidade de me libertar dos sentimentos que embalam
a vida da gente, só eu possuo. E não quero, não quero usar.
Não quero usar porque minha carta de alforria me liberta de
ti, e certas prisões são libertadoras.
— Bruna Barp
Foto: We heart it
10 comentários
Gente do céu, como você escreve bem. Suas palavras são tão belas e cativantes que nessa madrugada irei ler mais textos seu! Ah, esse texto bem no começo diz muito sobre coisas que estou "passando", se é que me entende!
ResponderExcluir"Que a minha metade não era você, que eu era uma panela grande demais, e você, uma tampa minúscula".
Todo sucesso do mundo para você!
Beijos.
www.florigrafando.blogspot.com
Ahhhhhh Ane, muito obrigada! Quando o texto encaixa com um momento, não tem melhor, né?
ExcluirTomara que goste dos outros também!
Beijinhos da Bru! ♥
Pelo amor de Deus Bruna, que texto foda, muito bem escrito e com um enredo ótimo. te desejo tudo de bom e que possamos sempre passar por esses obstaculos da vida de cabeça erguida. Amei seu blog, um beijo!
ResponderExcluirwww.tryciacosta.com.br
Muuuito obrigada Trycia! Desejo o mesmo a você! Fico feliz que tenhas gostado do blog, beijinhos da Bru
ExcluirOi Bru que texto envolvente!
ResponderExcluirÉ tão ruim quando a "tampa não se encaixa na panela né?" rs bjs
Seguindo aqui!
Se quiser dar uma passadinha lá no meu
www.quaseinvisivel.blogspot.com
Oi Mayara! Hahahaha sim, é.
ExcluirMuito obrigada ♥, vou olhar sim hahah
Oii, ual adorei seu texto. Ele envolve as pessoas de uma maneira sem explicação. Texto super bem escrito, parabéns.
ResponderExcluirHahahahah muito obrigada Larih!
ExcluirBeijinhos da Bru!
Ah que texto ein, lembrei de uns textos que eu escrevia ou melhor tentava escrever ... fiquei imaginando o drama de não ter o encaixe perfeito .. E o moreno burro.. Haha você escreve muito bem, gostei!! Um bigbeijo http://www.blahoestraich.com.br
ResponderExcluir"o moreno burro" HAHAHAHAH muito obrigada Lisiane!
ExcluirBeijinhos da Bru!