Nunca li o mesmo livro duas vezes

By 20:11 , ,

Eu me dei conta de que nunca li o mesmo livro duas vezes. Acho que, bem possivelmente seja porque não gosto. Não gosto de reler o que já vi, o que já sei como termina. É, acho que a resposta para a gente é essa, moreno: eu não gosto de ler o mesmo livro duas vezes. E sim, me aposso de uma analogia barata para explicar que não consigo, rapaz. Não consigo, não quero e nem gosto.
Nós tentamos e foi bom, moreno, foi bom acordar meses seguidos sentindo o mesmo perfume no travesseiro ao meu lado. Foi bom fechar os olhos e lembrar que aqueles olhos profundos estavam bem ali, ao meu lado, logo atrás das pálpebras fechadas que acompanhavam um sono tranquilo.
Foi tão, mas tão bom, moreno, que agora eu preciso ir. E você deve ficar. Ficar aqui ou seguir para o lado oposto ao meu. E se isso não fizer sentido para você, eu só peço calma, estou tentando explicar. Sempre achei-me bem provida de defesas, já que a palavra é a melhor arma que temos para usar e eu, modéstia a parte, sei usá-la muito bem. No entanto, ao que parece, elas me fogem quando se trata de você, moreno. Logo elas, minhas escudeiras fiéis, me abandonam quando o assunto é justificar sua ida. Ou meu apelo para que vá.
Tente acompanhar meu raciocínio, moreno, sempre quis ir a novos lugares a repetir os velhos e monótonos em que já quase nos sentíamos em casa. Optei o tempo todo por bebidas diferentes e usava apenas um frasco de cada perfume, sem repetir, sem me apegar ao cheiro ou às lembranças que ele trazia. Embora neste exato momento isso pareça completamente contraditório, já que não consigo passar por um homem qualquer que use teu perfume e não lembrar de tudo. Tudo que eu quero deixar ir, que eu costumo deixar ir, moreno. Porque costumo deixar o passado ficar no passado e aceitar de bom grado o novo. E, disso tudo, você bem sabe.
É por isso que a única explicação que encontrei foi essa, moreno: eu não gosto de ler o mesmo livro, e não quero dispensar surpresas tampouco expectativas. Só que ficando com você, elas estão me dando adeus, rapaz. E antes que se engane, não estou dizendo que nosso tempo foi vago, jogado ao mar e que pretendo esquecê-lo. Ah, moreno, não se atreva a pensar isso! Nosso tempo juntos foram os dias bons de meus últimos meses, até deixarmos a rotina entrar neles e, devagarzinho, se apossar de cada gesto novo ou bom que praticávamos. Nosso amor era bijuteria, moreno, a rotina feito água. E, para ser honesta, recuso-me a viver um relacionamento enferrujado, sem cor ou outros moldes. Por isso estou pedindo que vá, moreno, eu não quero tentar de novo. E por quê? 
Porque eu não leio o mesmo livro duas vezes, amor, e acabei de guardar o nosso na estante. 

— Bruna Barp



OBS: O texto em NADA tem a ver com a vida pessoal da autora. A situação e personagens são apenas fictícios. 



Foto: We heart it

8 comentários

  1. Nunca me canso de dizer o quanto teus textos são fantásticos... 💘

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    1. E eu não canso de ouvir, Bia! HAHAH muuito obrigada ♥♥♥

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  2. Adorei o jeito como você laçou uma coisa com a outra, amei o texto!
    Muito bom.

    Xoxo :*
    www.isabelamingues.blogspot.com.br

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  3. Maravilhoso! Adoreeeeei, Bru *o*
    Apaixonada estou! Adoro quando leio o texto e me identifico 100% ahyeheuheua
    Realmente, cansa tentar um relacionamento duas vezes. Você já conhece a pessoa, já sabe quais atitudes ela vai tomar em determinadas situações, e isso cansa.
    Há um livro de crônicas que li da Martha Medeiros, se não me engano. Chama-se "Coisas da Vida", mas não me lembro se estou certa. Há nele uma crônica que diz que precisamos de alguém novo, alguém zerado de nós. Alguém pra nós surpreendermos e nos surpreender (de preferência positivamente), e esse pensamento se encaixa perfeitamente no texto! Não que nós precisamos de alguém novo sempre, mas que tentar de novo uma relação já desgastada ou encerrada, cansa muito! Custa muito. E não quero viver pagando e reutilizando, reciclando um espelho quebrado, frágil, sem futuro.
    Vale mais conseguir um que, pelo menos, dure um bom tempo sem quebrar. Trincar talvez, mas quebrar jamais. Afinal, vale mais um espelho trincado e forte do que um em perfeito estado e frágil como uma pena. Isso é uma metáfora para relacionamentos aheheah
    Não sei se ficou tão claro o que eu disse como parece estar na minha cabeça, mas só ti poderá responder aheuehuah
    Novamente, adorei muito o texto! Envolvente demais!
    Beijos, paz! ♡

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    1. Liz! Começo desculpando-me pela demora(tá tudo super corrido). Depois digo: ficou claro o que quis dizer, e concordo. Precisamos do novo sempre, mas nem sempre pessoas novas. Às vezes a monotonia se instala na gente e achamos que trocando o outro, isso muda também, só que... não HAHAH
      De toda forma, sim, precisamos de pessoas zeradas de nós várias vezes durante a vida, nem sempre num relacionamento amoroso.
      Sabe que ADORO teus comentários gigantes, muito obrigada, fico contente que tenha gostado!
      Beijinhos da Bru, e muita paz ♥

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  4. Comecei a ler o texto pelo motivo de que eu ADORO ler um livro mais de uma vez. Justamente porquê eu já sei o final, sei como termina, tenho a certeza daquilo. Adoro o novo, a novidade, o incerto. Mas adoro o que já li, aquela saudade gostosa e poder reler as páginas e entrar naquele mundo novamente! <3
    Mas você está certa por um lado, quando é um relacionamento, o que é repetido, é ruim. É rotina, é o mesmo. E isso se torna tão chato, tão desgastante. E mesmo que esteja bom, já num é mais agregador a gente! :/

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    1. Oii Sarah!
      Realmente, a segurança de algo já visto e vivido nos atrai, mas o novo é muito melhor, principalmente no caso de relacionamentos, que se forem sempre o mesmo, viram massantes.
      Obrigada e beijinhos da Bru!

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