Foi mal, não aprendi a lidar com surpresas

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Foi ao arrumar minha playlist que reparei. 
As músicas estavam na ordem, conforme o que significavam e a sensação que faziam-me sentir,  pelo ritmo, cantor, ou a inspiração que traziam, quando apertei no botão de sorteio, e elas misturaram-se. Tentei reverter, elas precisam voltar a ordem. Como ia saber qual era qual? Se estavam sem nome? Foi quando percebi que não poderia dar Ctrl + Z.
Não podia ficar daquele jeito, onde já se viu? Link por link, procurei uma a uma, renomeando-as de letras aleatórias para nome e cantor respectivos. Ordenei-as outra vez e sorri para o computador. Sem surpresas agora.
Foi aí que caiu a ficha. Eu fiz isso com a gente, não fiz? É isso que faço com as coisas. Eu precisava de controle, classificar, catalogar, saber qual era o próximo passo, a próxima música, a próxima reação, sem surpresas. Não podia, não queria e não sabia lidar com surpresas.
Sufoquei-nos, não foi? Em meio a minha bagunça eterna, eu exigi controlar isso. A única coisa que quis ter a rédeas, e veja para onde nos levei? Uma rua sem saída, ou, quem sabe, era um precipício? Eu não tenho certeza, porque a surpresa me fez confusa, embaçou-me a visão.
Eu precisava saber seus gostos, cores, gírias, som da voz, música favorita, posição de dormir, manias, dúvidas... e você? Bem, você até que tentou lidar, mas como? Como lidar com alguém que não aceita o fato de que o dia de amanhã será uma surpresa? De que precisamos, e devemos viver um dia após o outro?

No entanto eu continuo assim, meu bem. Você se foi, mas eu fiquei. Fiquei aqui, presa no meio dessa bagunça organizada, na qual só eu me entendo. Perdida entre nomes, classes, níveis, pastas e mais pastas com títulos e sub-títulos. E desculpe por isso, às vezes me esqueço de que não é possível rotular uma pessoa. E  com você, foi o que tentei. 

— Bruna Elisabete Faé Barp





Foto: We heart it

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