Ela foi
E eu nem pedi para ficar.
Depois de uma discussão como qualquer outra que já havia
virado rotina, ela bateu a porta. Jogou as roupas numa mala e resolveu ir. É
claro que eu não me importei, era apenas uma discussão. Como tantas outras. Ela
voltaria.
Por que dessa vez seria diferente? Ela gritou comigo, eu não
fiz menos. Ela chorou, eu bebi o segundo copo de uísque. Mas era uma discussão qualquer,
é claro que ia passar. Um dos dois
daria o último suspiro, derrotado, e partiria para outro cômodo do apartamento.
No dia seguinte alguém pediria desculpas. Assim que funcionava, e continuaria.
Talvez ela pegasse minha garrafa recém aberta e viraria na
pia do banheiro, enquanto chorava as mágoas restantes. Não seria a primeira
vez. E eu ficaria lá, terminando o conteúdo do copo, enquanto tirava da mala
algumas peças de roupa que ela jogara lá durante a discussão. A dramatização
era sempre a mesma, algumas roupas sempre paravam na mala, e eu sempre as
guardava o mais rápido possível, assim que ela virava-me as costas. Para que não desse tempo de se lembrar que
decidiu ir embora. Mais uma vez.
Entre um gole e outro, o perfume de suas roupas pairava até
meu nariz, fazendo-me arrepender de cada e qualquer palavra que, com má
intenção, disse durante a discussão. No entanto, era só uma discussão, sempre
foi. E eu sempre saía perdendo uma garrafa de uísque, ou vinho, o que tivesse
nas mãos e fosse parar nas dela.
Nada disso me importava. Nem as garrafas, nem o monte de
roupas para guardar. Porque ela sempre voltava, voltava atrás na decisão. Secava
as lágrimas e corria para os meus braços, onde era seu lugar. E eu me
desculpava por tê-la feito chorar, sempre. Mesmo quando achava estar com razão.
Ela não devia chorar por minha causa, ela
não merecia chorar por nada.
Só que dessa vez importou. Importou-me as palavras e o
número dobrado de soluços que a fiz dar. Importou o fato de que não apenas
algumas peças – mas todas, estivessem jogadas na mala, antes mesmo que pudesse
reparar. E, depois que ela saiu pela porta, importei-me também com a garrafa
jogada no chão, dessa vez –ela mesma derrubara-, porque quando me dei conta de
que não voltaria, já não tinha mais onde afogar as mágoas. Nem minhas próprias
lágrimas. Muito menos os inúmeros arrependimentos.
Dessa vez ela foi para não voltar –não voltar mais para mim.
E talvez a única coisa que eu devia ter dito, foi a que não disse: Fica, morena.
— Bruna Barp
OBS: O texto em NADA tem a ver com a vida pessoal da autora. A situação e personagens são apenas fictícios.
Foto: We heart it
2 comentários
Olá lindona.
ResponderExcluirCada texto lindo que tem nesse blog.
Você escreve super bem. E gosto muito do layout do seu cantinho.
Parabéns.
Beijos lindona.
www.meumundosecreto.com.br
Olá Vanessa!
ExcluirMuito obrigada, espero que tenha viajado lendo ♥ hahah
Volte sempre que quiser, beijinhos da Bru!