Ela foi

By 20:26 , ,

E eu nem pedi para ficar.
Depois de uma discussão como qualquer outra que já havia virado rotina, ela bateu a porta. Jogou as roupas numa mala e resolveu ir. É claro que eu não me importei, era apenas uma discussão. Como tantas outras. Ela voltaria.
Por que dessa vez seria diferente? Ela gritou comigo, eu não fiz menos. Ela chorou, eu bebi o segundo copo de uísque. Mas era uma discussão qualquer, é claro que ia passar. Um dos dois daria o último suspiro, derrotado, e partiria para outro cômodo do apartamento. No dia seguinte alguém pediria desculpas. Assim que funcionava, e continuaria.
Talvez ela pegasse minha garrafa recém aberta e viraria na pia do banheiro, enquanto chorava as mágoas restantes. Não seria a primeira vez. E eu ficaria lá, terminando o conteúdo do copo, enquanto tirava da mala algumas peças de roupa que ela jogara lá durante a discussão. A dramatização era sempre a mesma, algumas roupas sempre paravam na mala, e eu sempre as guardava o mais rápido possível, assim que ela virava-me as costas. Para que não desse tempo de se lembrar que decidiu ir embora. Mais uma vez.
Entre um gole e outro, o perfume de suas roupas pairava até meu nariz, fazendo-me arrepender de cada e qualquer palavra que, com má intenção, disse durante a discussão. No entanto, era só uma discussão, sempre foi. E eu sempre saía perdendo uma garrafa de uísque, ou vinho, o que tivesse nas mãos e fosse parar nas dela.
Nada disso me importava. Nem as garrafas, nem o monte de roupas para guardar. Porque ela sempre voltava, voltava atrás na decisão. Secava as lágrimas e corria para os meus braços, onde era seu lugar. E eu me desculpava por tê-la feito chorar, sempre. Mesmo quando achava estar com razão. Ela não devia chorar por minha causa, ela não merecia chorar por nada.
Só que dessa vez importou. Importou-me as palavras e o número dobrado de soluços que a fiz dar. Importou o fato de que não apenas algumas peças – mas todas, estivessem jogadas na mala, antes mesmo que pudesse reparar. E, depois que ela saiu pela porta, importei-me também com a garrafa jogada no chão, dessa vez –ela mesma derrubara-, porque quando me dei conta de que não voltaria, já não tinha mais onde afogar as mágoas. Nem minhas próprias lágrimas. Muito menos os inúmeros arrependimentos.

Dessa vez ela foi para não voltar –não voltar mais para mim. E talvez a única coisa que eu devia ter dito, foi a que não disse: Fica, morena. 

— Bruna Barp



OBS: O texto em NADA tem a ver com a vida pessoal da autora. A situação e personagens são apenas fictícios. 



Foto: We heart it

2 comentários

  1. Olá lindona.
    Cada texto lindo que tem nesse blog.
    Você escreve super bem. E gosto muito do layout do seu cantinho.
    Parabéns.
    Beijos lindona.

    www.meumundosecreto.com.br

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    1. Olá Vanessa!
      Muito obrigada, espero que tenha viajado lendo ♥ hahah
      Volte sempre que quiser, beijinhos da Bru!

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