Dorme que passa

By 02:46 , ,

O relógio marcava quatro da manhã quando meu celular tocou. Atendi. Qual foi minha surpresa ao ouvir teu melhor amigo do outro lado da linha. Aquele mesmo, cara, que sempre me odiou, lembra? Na mesma hora pensei em desligar, deve estar bêbado. Mas aí ele me implorou “Não desliga por favor!” gritou, assim mesmo, sem vírgulas nem pausas, para dar tempo de falar antes que bloqueasse a tela.
O que diabos ele poderia querer logo comigo? O que ele mais queria era que saísse da sua vida, e, rapaz, acho que ele esteve certo o tempo todo, porque cedo ou tarde, eu saí. E logo agora, que posso dormir tranquila, sem me importar desnecessariamente em agradar os amigos do meu namorado que não vão com a minha cara, um deles me liga?
“O que você quer?!” resmungo, impaciente, com a voz rouca de quem acabou de acordar mais uma pitada do mau-humor que ele merecia. No momento seguinte em que ele começou a falar, desejei ter obedecido ao primeiro impulso e desligado a ligação quando pude. Mas eu já não podia.
Ele me pediu, moreno, pediu pra ir até lá. Aquele bar imundo de que eu nunca gostei e eles adoravam te levar. Na verdade ele não pediu, implorou. Não era ele quem estava bêbado, era você, passou da conta outra vez. Mas essa não tinha sido só mais uma vez. Impulsivo e inconsequente como era, socou um cara e, quando tentaram te impedir, quebrou uma garrafa na mesa, ameaçando todo mundo com aquele pedaço de vidro cortante na mão.
Só que eu sei, moreno, que o objeto quebrado na tua mão não era nada perto do teu coração.  Porque esse sim tava quebrado, né? Ele me disse que estava descontrolado, e, bêbado de mais, chamou por mim. Eles te acudiram e acalmaram, aí você vomitou a merda da bebida que virou no próprio corpo e começou a chorar.
E ainda estava chorando, ali, do outro lado da linha. Esperando que eu dissesse: sim, já vou. Como fiz da outra vez em que não conseguia dirigir para voltar, peguei um táxi e fui te encontrar,  né, moreno? Porque era isso que eu fazia, eu te socorria. Mas naquela época, ninguém precisava implorar, porque eu corria no primeiro toque, que tinha uma música especial quando você ligava. A situação seria comum se não tivesse socado alguém, ameaçado outros, e por fim, chorado como um bebê.
Só que eu também chorei como um bebê ao terminarmos, rapaz, e você nem ligou. Você nem soube. Porque eu não sou dessas que vai chorar em publico e gritar minha tristeza num pedido desesperado de ajuda, de socorro, de apelo. Não, moreno, eu senti minha dor em silencio até que um dia ela decidiu ir embora. E quando ela foi, você foi junto.
Ele continuou me implorando do outro lado, enquanto ouvia uns soluços e meu nome sendo pronunciado por uma voz arrastada. E aquela voz era tua. “Por favor!”, teu melhor amigo pediu “Vem pra cá, fala com ele.” Mas o que eu poderia dizer para sanar essa tua dor? Essa dor que eu senti bem antes enquanto você passava as noites nesse mesmo bar? O que eu poderia dizer se acabou?
Porque acabou de vez, cara. E se acabou para mim, cedo ou tarde acabaria para você também. Infelizmente o erro foi aprender a me amar tarde demais...
Bufei.
“Dorme que passa, moreno.”

— Bruna Barp






Foto: We heart it

11 comentários

  1. Rapaz, que texto bonito! Você escreve muito bem. Parabéns, viu?
    Gosto de textos assim, que contam estórias e que dão aquele apertinho no coração - Já tava aqui pensando que ela ia atrás do cara pfff - mas que bom que não foi, porque o desfecho do texto foi exatamente o que deu aquele toque especial pra narrativa!
    Beijoos :*
    http://www.coisasdarah.com

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    1. HAHAHAH muito obrigada Rayana! Que bom que deu aquele apertinho no coração, sem emoção não tem graça, né? ♥
      Beijinhos da Bru!

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  2. Nossa Apaixonada escreve um livro ples haha ..

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    1. Que amooorrrr, não conta pra ninguém, mas estou escrevendo, tá? HAHAHAH e muito obrigada!
      Beijinhos da Bru!

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  3. Hahahah muito obrigada, Ana Paula. Conhecerei sim.
    Beijinhos da Bru!

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  4. Oiie Bruna,
    Eu ainda não conhecia seu blog, descobri ele hoje em um dos muitos grupos de blogueiras que tenho no facebook e fiquei muito curiosa para ler seu texto.
    Nossa, fiz muito bem em vir ler seu texto, pois eu o adorei. Me lembrou de uma história que li uma vez em um site de fanfics. Acontecia quase a mesma coisa.
    Belíssimo texto, parabéns.

    Beijinhos violetas ^^
    Lírios & Violetas

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    1. Oii, Brenda! Que bom que descobriu o blog hahah Fico muito contente que tenha gostado ♥ E sobre a fanfic, me diz o nome porque sou apaixonada por elas HAHAHAH
      Beijinhos da Bru!

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  5. OMG! Ameeeeei, amei muitooooo! Que lindo, você tem muito talento! PARABÉNS!
    Confesso que achei que ela ia atrás dele. Mas ainda bem que não foi, porque infelizmente as pessoas só valorizam a sua presença quando você não está mais lá </3
    Adorei muito o texto, e seu blog também!
    Vem conhecer o meu cantinho :)
    Bjs!

    http://efeitodiamante.blogspot.com.br/

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    1. Oi Beatriz! Muuuuito obrigada HAHAH ♥ e que bom que gostou!
      Ela não podia ir lá, né?
      Obrigada de novo e sim, passarei no teu blog hahah
      Beijinhos da Bru!

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  6. Que texto perfeito, Bru, amei demais!
    Juro pra você que eu estava esperando que a narradora fosse ver o "moreno" dela, mas ela não foi, ela deixou que ele lidasse com a dor dele assim como ela lidou com a dela e eu amei isso, parabéns!
    Beijos <3

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    1. Oi Thainá!
      Muito obrigada hahahah que bom que amou! E é claro que ela não podia ir atrás dele, né? HAHAH
      Beijinhos da Bru!

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