Dorme que passa
O relógio marcava quatro da manhã quando meu celular tocou. Atendi.
Qual foi minha surpresa ao ouvir teu melhor amigo do outro lado da linha. Aquele
mesmo, cara, que sempre me odiou, lembra? Na mesma hora pensei em desligar, deve estar bêbado. Mas aí ele me
implorou “Não desliga por favor!” gritou, assim mesmo, sem vírgulas nem pausas,
para dar tempo de falar antes que bloqueasse a tela.
O que diabos ele poderia querer logo comigo? O que ele mais
queria era que saísse da sua vida, e, rapaz, acho que ele esteve certo o tempo
todo, porque cedo ou tarde, eu saí. E logo agora, que posso dormir tranquila,
sem me importar desnecessariamente em agradar os amigos do meu namorado que não
vão com a minha cara, um deles me liga?
“O que você quer?!” resmungo, impaciente, com a voz rouca de
quem acabou de acordar mais uma pitada do mau-humor que ele merecia. No
momento seguinte em que ele começou a falar, desejei ter obedecido ao primeiro
impulso e desligado a ligação quando pude. Mas eu já não podia.
Ele me pediu, moreno, pediu pra ir até lá. Aquele bar imundo
de que eu nunca gostei e eles adoravam te levar. Na verdade ele não pediu, implorou. Não era ele quem estava
bêbado, era você, passou da conta
outra vez. Mas essa não tinha sido só mais uma vez. Impulsivo e inconsequente
como era, socou um cara e, quando tentaram te impedir, quebrou uma garrafa na
mesa, ameaçando todo mundo com aquele pedaço de vidro cortante na mão.
Só que eu sei, moreno, que o objeto quebrado na tua mão não
era nada perto do teu coração. Porque esse sim tava quebrado, né? Ele me
disse que estava descontrolado, e, bêbado de mais, chamou por mim. Eles te
acudiram e acalmaram, aí você vomitou a merda da bebida que virou no próprio
corpo e começou a chorar.
E ainda estava chorando, ali, do outro lado da linha.
Esperando que eu dissesse: sim, já vou. Como fiz da outra vez em que não
conseguia dirigir para voltar, peguei um táxi e fui te encontrar, né, moreno? Porque era isso que eu fazia, eu
te socorria. Mas naquela época, ninguém precisava implorar, porque eu corria no
primeiro toque, que tinha uma música especial quando você ligava. A situação
seria comum se não tivesse socado alguém, ameaçado outros, e por fim, chorado
como um bebê.
Só que eu também chorei como um bebê ao terminarmos, rapaz,
e você nem ligou. Você nem soube.
Porque eu não sou dessas que vai chorar em publico e gritar minha tristeza num
pedido desesperado de ajuda, de socorro, de apelo. Não, moreno, eu senti minha
dor em silencio até que um dia ela decidiu ir embora. E quando ela foi, você
foi junto.
Ele continuou me implorando do outro lado, enquanto ouvia
uns soluços e meu nome sendo pronunciado por uma voz arrastada. E aquela voz
era tua. “Por favor!”, teu melhor amigo pediu “Vem pra cá, fala com ele.” Mas o
que eu poderia dizer para sanar essa tua dor? Essa dor que eu senti bem antes
enquanto você passava as noites nesse mesmo bar? O que eu poderia dizer se
acabou?
Porque acabou de vez, cara. E se acabou para mim, cedo ou
tarde acabaria para você também. Infelizmente o erro foi aprender a me amar
tarde demais...
Bufei.
“Dorme que passa, moreno.”
— Bruna Barp
Foto: We heart it
11 comentários
Rapaz, que texto bonito! Você escreve muito bem. Parabéns, viu?
ResponderExcluirGosto de textos assim, que contam estórias e que dão aquele apertinho no coração - Já tava aqui pensando que ela ia atrás do cara pfff - mas que bom que não foi, porque o desfecho do texto foi exatamente o que deu aquele toque especial pra narrativa!
Beijoos :*
http://www.coisasdarah.com
HAHAHAH muito obrigada Rayana! Que bom que deu aquele apertinho no coração, sem emoção não tem graça, né? ♥
ExcluirBeijinhos da Bru!
Nossa Apaixonada escreve um livro ples haha ..
ResponderExcluirQue amooorrrr, não conta pra ninguém, mas estou escrevendo, tá? HAHAHAH e muito obrigada!
ExcluirBeijinhos da Bru!
Hahahah muito obrigada, Ana Paula. Conhecerei sim.
ResponderExcluirBeijinhos da Bru!
Oiie Bruna,
ResponderExcluirEu ainda não conhecia seu blog, descobri ele hoje em um dos muitos grupos de blogueiras que tenho no facebook e fiquei muito curiosa para ler seu texto.
Nossa, fiz muito bem em vir ler seu texto, pois eu o adorei. Me lembrou de uma história que li uma vez em um site de fanfics. Acontecia quase a mesma coisa.
Belíssimo texto, parabéns.
Beijinhos violetas ^^
Lírios & Violetas
Oii, Brenda! Que bom que descobriu o blog hahah Fico muito contente que tenha gostado ♥ E sobre a fanfic, me diz o nome porque sou apaixonada por elas HAHAHAH
ExcluirBeijinhos da Bru!
OMG! Ameeeeei, amei muitooooo! Que lindo, você tem muito talento! PARABÉNS!
ResponderExcluirConfesso que achei que ela ia atrás dele. Mas ainda bem que não foi, porque infelizmente as pessoas só valorizam a sua presença quando você não está mais lá </3
Adorei muito o texto, e seu blog também!
Vem conhecer o meu cantinho :)
Bjs!
http://efeitodiamante.blogspot.com.br/
Oi Beatriz! Muuuuito obrigada HAHAH ♥ e que bom que gostou!
ExcluirEla não podia ir lá, né?
Obrigada de novo e sim, passarei no teu blog hahah
Beijinhos da Bru!
Que texto perfeito, Bru, amei demais!
ResponderExcluirJuro pra você que eu estava esperando que a narradora fosse ver o "moreno" dela, mas ela não foi, ela deixou que ele lidasse com a dor dele assim como ela lidou com a dela e eu amei isso, parabéns!
Beijos <3
Oi Thainá!
ExcluirMuito obrigada hahahah que bom que amou! E é claro que ela não podia ir atrás dele, né? HAHAH
Beijinhos da Bru!